sábado, 7 de fevereiro de 2015

Vivamos

Vivamos o impacto da vida
O saborear dos dias que correm,
Sintamos o eterno hoje
Sem quedarmos com os que morrem.

     Vivamos o provisoriamente novo
     Engalanados e de alma aberta,
     Porque o abrir-se para o outro
     Nos mantém a alma alerta.

Olhemos tudo e a todos
Ecologicamente de forma correta,
Porque nisto está a vida
E esta é a nossa meta.

     E porque só assim entenderemos
     Que tudo está no seu lugar,
     E que a sabedoria consiste
     Na beleza do saber olhar...

Fátima Garcia Passos

domingo, 28 de dezembro de 2014

 Amor ou dever

   Segundo Immanuel Kant o amor nada tem a ver com o dever moral. Uma mãe que amamenta seu filho  age por sentimento materno não por dever. Um pai quando paga a pensão de um filho age por dever, não necessariamente por amor. Mas há uma diferença em Kant entre as ações por dever ou conforme o dever. Só se pode agir por dever quando se é livre, quando sua vontade é autônoma, aí então você age de acordo com a máxima de vida gerada pelo imperativo categórico.  Kant então fundamenta a prática moral não na pura experiência, mas em uma lei aprioristicamente inerente à racionalidade universal humana. Esta seria o imperativo categórico: “Age de tal forma que a máxima da tua vontade possa valer sempre e ao mesmo tempo como principio de uma legislação universal”.
   O imperativo prático cumpre, portanto o imperativo categórico que é a priori e se encontra no cerne da razão: “Age de tal modo que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre como um fim em si e nunca como um meio para se atingir algo”. Todavia agir por dever é diferente de agir conforme o dever, quem age conforme o dever segue uma lei heterônoma, os próprios instintos de sobrevivência ou interesse próprio, visam às conseqüências do agir, como sair bem na foto, não ser preso, evitar problemas, ir para o céu ou algo parecido.
   Não há no mundo para Kant, nada que seja bom por si mesmo. Tudo é o que é. E ponto. Só a boa vontade é boa em si mesmo. Então se eu salvo um inimigo que está se afogando, ajo por dever, boa vontade. A vontade é independente das circunstâncias empíricas, é ela que usa a força, a beleza, o poder e etc. A vontade é o agente e nunca o meio. É a mão que opera, não a ferramenta. Na filosofia moral kantiana a vontade é absolutamente autônoma; liberta de qualquer heteronímia que poderia compuscar-lhe, já que ela está vinculada ao “dever ser”, ao imperativo categórico que existe fora do tempo e do espaço, por ser atemporal e universal.
   Esta ética deontológica valoriza primeiro o dever e só posteriormente o conceito de bem e as conseqüências das ações. Trata-se, portanto, de uma ética própria do homem, não sendo pessoal, pois não contempla interesses particulares, mas universais. Estamos cumprindo com nossos deveres? Ou simplesmente maquiando nossas ações para parecermos bons? Para os gregos, beleza, força e inteligência eram virtudes desejadas, contudo os cristãos as denominaram “talentos” dados por Deus. E quem não os tem? Devem se suicidar?
   A vontade não se confunde com o talento, nem com o uso que se faz dele. Ou seja, Aquele que age regido pela boa vontade, pode fazer acontecer coisas lindas e também monstruosas. Como no caso do salvamento do inimigo que livre das águas pode matá-lo. Mas não importa, o dever foi comprido. Ora toda vontade pressupõe uma deliberação da razão. Distinta dos desejos, das emoções. Para Kant nem o que fizemos ou causamos importam para atribuir valor moral. Porque este é dado exclusivamente em função do motivo que levou o agente a agir. Os cristão chamam a isto de intenção.
   Só o motivo permite identificar, em qualquer deliberação uma boa vontade, é o que Kant denomina “sentido do dever”. Ou seja, só age com boa vontade aquele que age por dever. Age desinteressadamente, pelo prazer do dever cumprido. É o caso do destemido suicida, que desiste de se matar simplesmente por dever de seguir vivendo. Em pleno século XXI em que guerras, corrupção e atrocidades nos atropelam que possamos agir se não por amor ou conforme o dever, que seja pelo dever em si, a fim de que nos tornemos seres melhores ou pelo menos mais humanos.


Fátima Garcia Passos – Pós-graduada em Ciência das religiões e Mestre em Filosofia

domingo, 30 de novembro de 2014

Peculiaridades

     Assisti um programa na TVE cujo foco principal era a ancestralidade e cuja pergunta  em questão era: Como você se vê na sua ancestralidade? No todo pude concluir que valorizar a ancestralidade parte de uma consciência de que não se é aceito, valorizado e respeitado dentro da sociedade em que se apresenta, quer por não ter uma profissão reconhecida, quer pela cor, religião, cultura e etc. E isto porque todo aquele  que se fez respeitar, que construiu seu nome através de uma obra ou trabalho por si só já se aceita e já foi aceito tal como é ou se apresenta.
     No livro “ A identidade cultural na pós-modernidade” do sociólogo inglês Stuart Hall ele coloca que a identidade praticamente inexiste, e isto porque nestes tempos voláteis em que vivemos cada vez mais somos cercados por vários tipos, os mais diversos, que nos tocam metaforicamente deixando de se, alguns pedaços em nós. Com bisa-vos italianos do lado materno e português do lado paterno sinto-me totalmente desligada tanto da Itália como de Portugal, mas ligada ao que construí através de meus próprios esforços, inteligência e luta pela sobrevivência.
     Pelo “youtube.com”, “Twiter.com” e etc. Tenho lido acerca de nosso DNA, estes teriam se originado da mistura genética há milênios com povos extras terrestre. Será? Se for verdade eu que me sinto judaico-cristã e greco-romana poderia  ter como ponto de partida a estrela “Sírius”. Mas e quanto à lei de Darwin? Ela continuaria valendo com as mutações genéticas e os cruzamentos contínuos. Para o sociólogo Kevin Robin ao lado da tendência em direção a homogeneização global, há  também uma fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e da “alteridade”. Seria mais acurado pensar numa nova articulação entre “o global” e “o local”. As identidades locais, regionais e comunitárias têm se tornado mais importantes e valorizadas principalmente quando se ligam ao comercio justo e se tornam alto-sustentáveis.
     Correr, portanto para o centro do capitalismo em busca de oportunidades fugindo dos perigos do próprio lugar é viável, mas talvez não seja a única solução. A globalização pode levar a um fortalecimento de identidades locais ou à produção de novas identidades. O fortalecimento de identidades locais pode ser visto na forte reação defensiva daqueles membros dos grupos etnicamente dominantes ameaçados pela presença de outras culturas. É o racismo cultural.  Isto leva as estratégias avessas como rastafarianismo, uso de roupas e religiões exóticas.
     Não há como fugir, somos todos diferentes entre si. Porém humanos. E ainda que a fisionomia do outro nos assuste e incomode devemos trabalhar a inclusão porque como coloca o filósofo Spinoza a ética não nasceu da convivência social, mas sim, da inteligência, da vontade e da razão. Para  este sábio o fim do homem é revelar em sua existência individual aquele aspecto peculiar e único da divindade que só ele pode revelar. O universo é o verso do uno. A diversidade, portanto está no uno universal e a ética racional ou cósmica é alcançada pela personalidade individual integrada no todo universal. Aceitar o outro, portanto com todas as suas indissiocracias não é apenas caridade, mas sabedoria, pois cada um tem a missão peculiar de manifestar um determinado aspecto da divindade.
     E se nossa ação não for por dever, por boa vontade como coloca Kant, que seja pelo menos conforme o dever que embora heterônomo não  nos deixe mal, faz bem, se pauta na sociabilidade, no verniz das convenções.

Fátima Garcia Passos
Pós-graduada em Ciência das religiões e

Mestre em Filosofia

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Interligados

     Não adianta querermos caminhar só, estamos interligados. Enquanto uma alma chorar de fome física, afetiva, intelectual e etc.; estaremos mal. Antes conseguíamos nos harmonizar sozinhos não obstante o sofrer do outro. Contudo agora ainda que nos afastemos as emanações da dor alheia nos atinge e passamos a sofrer também. 
     A nossa cura, o nosso bem estar passa pelo bem estar de todos, não há como sermos indiferentes. Isto não quer dizer que devemos ser os salvadores do mundo, mas que pelo menos façamos a nossa parte cumprindo com os nossos deveres, quer de cidadãos, religiosos, seres morais ou até agnósticos. Porque como Emmanuel Kant dizia, o que importa é o nosso real propósito em fazer o bem, o bom e o belo.
     A consequência em si não nos pertence, nem o bem, nem o mal, mas a boa vontade. O “dever ser” não pode mais ser um ideal inatingível, só num futuro distante de nós. O “dever ser” tem que ser no agora,  a todo instante de nossas vidas, em que cada um dá o melhor de si, naquilo que se propôs a fazer. Isto, contudo não quer dizer que devamos levar o mundo nas costas, aqueles que nada fazem nem por si mesmos. Mas que cumpramos os nossos deveres. O dever no dever e não pelo dever.
     Contudo para tal precisamos fortalecer nossa vontade, esta que é o agente e não uma potencia como a beleza, a força e a inteligência. Estas potencialidades são talentos que Deus nos dá ou não, mas que cobrará por elas. Os gregos as tinham como virtudes, e o ser que as possuía podia se considerar melhor, todavia o cristianismo mostrou que estes     são apenas meios, que podem ser bem ou mal usados.
     Fragilizados que somos pelas emanações advindas da humanidade que chora como um todo só nos resta trabalhar, o trabalho como já o dizia Karl Marx transforma o homem e o mundo ao seu redor, mais do que isto, ele é o fio de Ariádine que nos tira do labirinto escuro de nossas emoções. Estas que representam o Minotauro que nos devora em vida, fragmentando-nos aqui e acolá.
     Só através do nosso labor poderemos nos manter firme frente às intempéries da vida, os desequilíbrios que nos acicatam através do mundo político, social, econômico, filosófico e espiritual em que vivemos.
     Devemos nos resguardar sim, porque não podemos nos expor às tormentas da vida, o recolhimento é o porto seguro, a enseada tranquila
que pode nos abrigar frente às procelas intermitentes. Todavia o orar e vigiar se faz necessário, porque devemos vigiar o nosso pensar.
     Portanto não basta orar, trabalhar, mas saber pensar. Pensar positivamente mantendo o foco na luz, na esperança por dias melhores e na certeza de que o melhor sempre virá. Medir o mundo não pelo que vê, mas pelo que crê que possa acontecer. Porque no final, só a luz resplandecerá.

Fátima Garcia Passos – Pós-graduada em Ciência das religiões e
Mestre em Filosofia




domingo, 12 de outubro de 2014

Vivamos

Vivamos o impacto da vida
A saborear os dias que correm,
Sintamos o eterno hoje
Sem quedarmos com os que morrem.

     Vivamos o provisoriamente novo
     Engalanados e de alma aberta,
     Porque o abrir-se para o outro
     Nos mantém a alma alerta.

Olhemos tudo e a todos
Ecologicamente de forma correta,
Porque nisto está a vida
E esta é a nossa meta.

     E porque só assim entenderemos
     Que tudo está no seu lugar,
     E que a sabedoria consiste
     Na riqueza do saber olhar...

fagar

domingo, 28 de setembro de 2014

Renova-te

Renova-te o alma cansada
De nesta gleba lutar,
Pois teu riso de esperança
Pode a muitos ajudar.

     Renova-te o alma sofrida
     Pelo acicate da dor,
     Porque mesmo triste e ferida
     Há quem precise de amor.

Renova-te apesar do meio
Te mostrar vielas tortas,
Porque sempre haverá um esteio
Um abrir de novas portas.

     Renova-te porque a vida é luta
     Que somente aos fracos abate,
     Mas que aos fortes da labuta
     Prepara para o bom combate.


Fagar



Renova-te


Renova-te o alma cansada
De nesta gleba lutar,
Pois teu riso de esperança
Pode a muitos ajudar.

     Renova-te o alma sofrida
     Pelo acicate da dor,
     Porque mesmo triste e ferida
     Há quem precise de amor.

Renova-te apesar do meio
Te mostrar vielas tão tortas,
Porque sempre há um esteio
E o abrir de novas portas.

     Renova-te porque a vida é luta
     Que somente aos fracos abate,
     Mas que aos forte da labuta
     Prepara para o bom combate.

Fagar